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Em busca de emprego, baiano vai andar de Catu até Macaé-RJ


Um ou mais dias. Este é o tempo que normalmente uma pessoa levaria de carro para chegar em Macaé, Rio de Janeiro, saindo do município de Catu (a 91, 6 km de Salvador), na Bahia. Mas e andando? Isso é o que vai descobrir Marco Antonio Araújo, 32, que está fazendo o trajeto desde o fim de outubro. O motivo não poderia ser mais nobre: desempregado, o catuense pretende através da jornada, chamar a atenção das empresas locais e conquistar um emprego. Ao todo, 1.500 km separam as duas cidades.

O dia nem tinha amanhecido quando Marco deu o “start” na sua caminhada, por volta da 3h45, no dia 25 de outubro. Quando conversou com a reportagem do Portal A TARDE na última quinta-feira, 5, ele já estava em Itabuna, a cerca de 415 km do ponto de partida. O plano é atravessar a BR 101, passando por praticamente todo o estado da Bahia, depois, cruzar o Espírito Santo, e parte do Rio de Janeiro, até enfim, alcançar Macaé. Quanto a chegada, não há previsão. “Só sei que uma hora eu chego”, brinca.

" O caminho é muito mais gratificante e valoroso do que o simples resultado. Esse percurso é na verdade um recado sobre foco, força e fé".


Tudo começou após o baiano ficar desempregado em 2015. Catu, que segundo ele, era um grande polo da indústria petrolífera, acabou ficando sem opções devido a crise que atingiu o setor na época. Impulsionado pela necessidade, foi aí que o torrista de perfuração decidiu colocar em prática uma ideia que já estava na sua cabeça há dois anos, na tentativa de chamar a atenção dos recrutadores e conseguir a sua recolocação no mercado. Ele conta que os cursos básicos na área estão vencidos, o que demandaria um investimento de ao menos R$ 5 mil.

“Hoje em Macaé, tem muitas pessoas com os cursos em dia, mas desempregadas. O que eu pensei foi: investir R$ 5 mil para apenas me tornar mais um? Não era válido. Essa foi a forma que encontrei de me destacar, e em contrapartida, ajudar outras pessoas”, destaca ele, que compartilha seu diário de viagem, repleto de fotos e relatos, pelo perfil no instagram: @desafiodomarco.

Munido com um celular para contar as histórias, sua mochila com 11 kg de bagagem e o seu famoso bordão de “quem tem limite é município, Marco caminha em média 40 km todos os dias. Cada cidade, além do momento de descanso, oferece a experiência de conhecer lugares e pessoas novas. “Tem gente já esperando eu chegar na sua cidade, de portas abertas para me acolher. Esse carinho não tem preço”, diz.

Claro que nem tudo são flores e alguns perrengues também aconteceram, como a vez em que realizou um trajeto de nove horas debaixo de uma tempestade e quase acabou dormindo ao relento. “Fui salvo pelos meus seguidores. Falei que estava sem um quarto para passar a noite e eles me arranjaram um abrigo”, diverte-se. A relação com os internautas, na verdade, é uma troca marcada pelo gosto de motivar o petroleiro.

“Muita gente me mandando mensagem dizendo que estava depressivo, para baixo, e que através dos meus stories, começou a ver a vida de outro jeito. Eu sou positivo, gosto de motivar. Agora não é só por Marco e para Marco, é por todo mundo, tem muita gente envolvida”, declara.

Rede de apoio

Apesar de fazer o trajeto sozinho, Marco garante que não se sente nem um pouco solitário. Familiares, amigos e seguidores, formam juntos, a rede de apoio que mantém vivo o sonho do catuense. “Tenho um staff que deixa qualquer atleta com inveja. São fisioterapeutas, educadores físicos, famílias me apoiando e dando suporte. Nada fui eu sozinho. Pessoas acreditaram na minha garra e me equiparam com vestimenta, tênis, e até um celular novo para eu fazer meus registros. E assim eu vou seguindo a minha caminhada”, afirma.

No começo, ele conta que foi difícil para a família aceitar por causa dos riscos nas estradas, mas depois, o apoio veio, inclusive na administração das redes sociais e na busca pelos pontos de apoio. Orgulhoso, Marco fala que seus maiores apoiadores são os seus filhos, Valentina, de 9 anos e Pedro, de 8. “Tenho total apoio deles, por isso me sinto forte, cheio de esperança, de fé”, explica. No dia da conversa com o A TARDE, era aniversário da filha, mas segundo o viajante, a pequena entendeu a ausência do pai e se contentou com a vídeo chamada.

Mas e o emprego? Confiante, Marco acredita que vai conseguir uma oportunidade, mas destaca que o mais valoroso mesmo será a trajetória. O pai de família afirma que quando chegar em Macaé, pretende, primeiro, comemorar com seus ex-colegas de trabalho, que já o aguardam. “Vivemos em uma sociedade competitiva, que foca apenas no resultado final. Então, essa é uma forma de passar a mensagem de que o caminho é muito mais gratificante e valoroso do que o simples resultado. Esse percurso é na verdade um recado sobre foco, força e fé”, reflete.



*A Tarde

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