Momento choroso com Merkel faz imigrante virar um 'símbolo'
Ela encarou a Grécia e abraçou seu papel como executora das regras da União Europeia. Mas uma chorosa requerente de asilo do Oriente Médio virou a mesa com a chanceler Angela Merkel da Alemanha na semana passada, colocando em dúvida sua compaixão e voltando a atenção para o dilema humanitário central da Europa.
Foi um momento que quase não aconteceu.
"Não estava planejado falar com a chanceler sobre o assunto dos refugiados", disse Reem Sahwil, uma palestina de 14 anos, em uma entrevista no apartamento de sua família aqui, na segunda-feira (20). Mas ela falou, em um fórum público jovem nesta cidade alemã na quarta-feira (15), com o vídeo da conversa sendo amplamente divulgado pela internet. As lágrimas de Reem ao ouvir Merkel dizer que não, que nenhum requerente de asilo pode permanecer na Alemanha, transformaram a adolescente tímida no novo rosto da enxurrada de recém-chegados à Europa.
Reem faz parte das centenas de milhares de imigrantes do Oriente Médio, África e outros lugares que chegaram nos últimos anos à Europa Ocidental em busca de segurança e oportunidade. A Alemanha está entre os países que recebem o maior número de requerentes de asilo na União Europeia. Pode levar anos para que tramite o processo de todos e, como notou Merkel, muitos terão o pedido negado.
Requerentes como a família de Reem, que chegou à Alemanha em grande parte por razões econômicas, são considerados juntamente com aqueles que estão fugindo de perseguição.
Mas uma legislação pendente está dando a requerentes de asilo jovens e bem integrados como Reem uma nova esperança de estadia mais longa em seus países adotados.
Uma reforma das leis de residência permitiria a certos requerentes de asilo menores de idade, que cursaram escolas alemãs e foram assimilados, a oportunidade de permanecerem no país de modo permanente, juntamente com seus pais.
Para esses estrangeiros, a legislação "finalmente oferece a perspectiva de uma residência legal e humanitária", disse Aydan Ozoguz, o comissário da Alemanha para imigração, refugiados e integração, em uma declaração. Essas mudanças, prosseguiu Ozoguz, "colocariam fim a anos de incerteza para muitos daqueles com vistos temporários e suas famílias, que há muito encontraram um novo lar aqui".
Reem se considera entre os recém-chegados que se sentem em casa na Alemanha. "Eu estou sendo bem tratada", ela disse, sentada sobre uma colcha cor de rosa repleta de bichos de pelúcia
Ela, seus dois irmãos mais novos e seus pais vivem em um conjunto habitacional anônimo longe do centro da cidade. O apartamento foi fornecido pelo governo. Os pais de Reem estão proibidos de trabalhar enquanto o requerimento de asilo está sendo analisado, e a família vive de um pequeno subsídio do governo.
Reem, falando alemão fluente após cinco anos no país, disse que deseja estudar e viver permanentemente na Alemanha. Ela quer trabalhar como intérprete ou como professora de inglês, para que possa ajudar outros a superarem as barreiras de comunicação que ela conhece muito bem. "Eu vejo o quanto é necessário quando os imigrantes chegam aqui", disse Reem.
Ela nasceu em um campo de refugiados em Baalbek, Líbano, em 2000. Ela nasceu prematura de dois meses e tem o tendão de Aquiles curto e uma paralisia cerebral que paralisa parcialmente seu lado esquerdo e dificulta o caminhar.
O pai dela, Atef Sahwil, tinha dificuldade para pagar as despesas médicas dela com o que ganhava como soldador. Em meados de 2006, enquanto a guerra entre Israel e o Hizbollah virava de cabeça para baixo a vida deles em Baalbek, os Sahwil fugiram para a Síria por alguns poucos meses, onde também viveram em um campo de refugiados. Depois que a família voltou ao Líbano, Reem quebrou sua perna direita em um acidente de carro. "Tinha que ser minha perna boa", ela riu, apontando para uma cicatriz em sua testa, outra lembrança do acidente.
Após anos de atendimento insuficiente, os Sawhil pediram um visto para tratamento médico na Alemanha em 2010 e voaram para Düsseldorf para uma operação nas costas de Reem. A família pagou pela viagem com dinheiro emprestado pelo empregador de Sawhil, assim como doações da Cruz Vermelha, parentes e vizinhos. "Nós abordávamos estranhos, batíamos de porta em porta pedindo por ajuda", disse Reem.
Foi o primeiro de muitos procedimentos médicos aos quais ela se submeteu na Alemanha, o que levou sua família a permanecer e dar entrada no requerimento de asilo. "Meu pai não conseguia mais lidar com aquilo", disse Reem sobre a vida difícil da família no Líbano.
Reem era uma dos vários estudantes que foram convidados a participar do fórum público com a chanceler na última quarta-feira, parte de uma série de discussões chamada Vivendo Bem na Alemanha.
"A política às vezes é dura", disse a chanceler, um comentário que alguns comentaristas disseram demonstrar uma falta de empatia. Outros aplaudiram a franqueza de Merkel –-incluindo a própria Reem.
"Ela foi honesta e acho isso bom", disse Reem.
Bol
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