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Rui e Neto afirmam que estão sofrendo pressão para reabrir comércio


A festa do Dois De Julho desse ano foi dominada pelo assunto do novo coronavírus. A pandemia apareceu na maior parte dos discursos das autoridades do Executivo e do Legislativo, e foi motivo de comentário também entre as poucas pessoas que estiveram na Lapinha para assistir a cerimônia, na manhã desta quinta-feira (2). O ato simbólico começou por volta das 9h, com o hasteamento das bandeiras do Brasil, da Bahia e de Salvador. 

O prefeito ACM Neto começou o discurso agradecendo ao empenho dos profissionais de saúde, e fazendo uma comparação entre a atuação deles na pandemia e os heróis que consagraram a independência em 2 de julho de 1823. 

“De certa forma, esse é um momento histórico. Assim como no passado aqueles heróis lutaram pela nossa independência, pela liberdade do nosso país, hoje no presente nós temos muitos heróis em luta no campo de batalha. Não é a batalha das armas, não é a batalha do enfrentamento físico, não é a batalha no campo, ela ocorre hoje nos leitos hospitalares. Ela está sendo travadas nos 163 bairros de Salvador e nos 417 municípios da Bahia”, disse. 

Neto continuou. “Ao recordarmos nesse ato os heróis do passado, precisamos homenagear os heróis do presente, em especial a todos os profissionais da área de saúde que estão na linha de frente, arriscando suas vidas e dando o melhor de si para salvar a vida do próximo”, afirmou.

Antes de o prefeito discursar, o governador Rui Costa também falou sobre os desafios dos novos tempos. Ele frisou que é preciso que a população colabore ficando em casa para ajudar a conter o avanço do vírus, disse que as decisões estão sendo pautadas de forma técnica e que a vida é prioridade. 

“Em 1823, a independência do Brasil se materializou, se concretizou aqui na Bahia. E no Brasil de hoje vivemos outra batalha, a luta contra um ser invisível que a ciência ainda busca explicar o seu modus operandi, porque em algumas pessoas os sintomas são tão leves que, às vezes, a pessoa nem sabe que está com o vírus, e em outras ele é tão letal que mata rapidamente. Essa é uma batalha que tem sido longa demais e, infelizmente, o Brasil não escolheu a estratégia correta para enfrentar o vírus e minimizou o adversário”, afirmou. 

Sem citar nomes, Rui Costa criticou a morosidade da União em tomar decisões relacionadas à pandemia e a postura de políticos que minimizaram o problema. Ele disse que faltou preparo.

“Não é possível minimizar o valor da vida humana e os países que fizeram isso pagaram um preço muito alto, e nós estamos pagando um preço muito alto. Estamos chegando a 120 dias de pandemia. Nenhum país do mundo ficou tanto tempo nessa situação. Os asiáticos souberam enfrentar isso muito melhor do que o Ocidente. Eles encararam o vírus desde o início como uma coisa muito séria, gravíssima, tomaram o remédio amargo de uma vez fechando tudo por 20 ou 30 dias e conseguiram superarar a crise. Nós resolvemos tratar uma pandemia dessa como se fosse algo pequeno e, por isso, estamos pagando o preço em vidas humanas e empregos, um preço muito maior do que deveríamos pagar”, afirmou o governador. 

Depois do hasteamento das bandeiras, foi feita a deposição das flores no monumento ao General Labatut, também no Largo da Lapinha. Este ano, por conta da pandemia não houve desfile. Os carros do Caboclo e da Cabocla ficaram posicionados na porta do barracão para fotos. As oferendas que normalmente adornam a estrutura onde ficam as imagens também foram proibidas. 

Reabertura 
O fechamento do comércio para conter o avanço da pandemia também foi motivo de debate. Tanto Rui como Neto disseram que estão sofrendo pressões dos empresários para reabrir as lojas, mas os dois disseram que isso somente acontecerá se o cenário da pandemia permitir. O prefeito disse que esteve em reunião com representantes empresariais e líderes do comércio, nesta quarta-feira (1º). Na ocasião, ele ouviu os argumentos dos empresários e atualizou as informações sobre a covid-19. 

“A base fundamental das nossas decisões é impedir que haja um colapso no sistema de saúde de Salvador. Todas as decisões que nós tomamos do dia 13 de março pra cá, quando editamos o primeiro decreto municipal, todas elas foram exatamente nesse mesmo sentido. Eu tenho certeza que nenhum de nós vai desviar desse foco porque o que pode haver de pior em Salvador é se multiplicar o número de pessoa precisando de atendimento hospitalar e encontrando essa porta fechada”, afirmou. 

Neto disse também que esse é o maior desafio da vida pública dele, que entende o sofrimento dos empresários, mas que a vida está acima de qualquer outra questão. Ele afirmou que não pretende ceder a nenhuma pressão que não seja adequada e devida, e que as decisões serão tomadas a partir de critérios objetivos, científicos e transparentes. 

Já o governador contou que há uma questão moral envolvida na pressão dos empresários, e que as vidas não podem ser banalizadas. 

“Ontem, eu recebi uma correspondência da Federação do Comércio pedindo que abra tudo em todo o estado. Qual o limite aceitável para essas pessoas de número de morto que nós podemos aceitar para decidir abrir tudo de qualquer jeito dizendo apenas que os estabelecimentos tomem os cuidados necessários? Aceitar 1,5 mil mortes por mês? E não está aberto, se abrir vai pular para 3 mil mortes por mês. Temos que decidir conjuntamente. O que o povo baiano quer? A vida de 3 mil pessoas por mês é o preço? Que esse dia possa servir para a gente refletir”, disse. 

Prefeitura e estado pretendem apresentar um protocolo de retomada das atividades nos próximos dias. A ideia é permitir a reabertura de alguns negócios, e determinar as regras para esse funcionamento, mas tanto prefeito como governador disseram que isso vai depender do cenário da pandemia em julho. 

Legislativo 
O presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Nelson Leal, destacou o trabalho em conjunto que a pandemia tem provocado. Ele disse que os deputados deixaram as diferenças partidárias de lado e estão trabalhando em prol de um mesmo objetivo, mas deixou claro que a retomada das atividades econômicas precisa acontecer com cautela.

“Sei da importância das atividades comerciais, sei que é fundamental para a nossa economia, para a sobrevivência do nosso povo, mas a prioridade agora tem que ser a vida e, por isso, eu acho que a reabertura do comércio e de toda a infraestrutura só pode acontecer quando tiver total segurança. A Assembleia Legislativa tem dado o apoio incondicional, lá acabou essa questão de partido, o que tem é o partido da Bahia. A gente tem trabalhado diuturnamente para ter as respostas o mais rápido possível” disse. 

Já o presidente da Câmara Municipal de Salvador, Geraldo Júnior, contou que os vereadores têm atuado no combate à pandemia agilizando a aprovação das matérias relacionadas ao tema e discutindo o problema com os diversos setores da sociedade. 

“Como represente do Legislativo da capital me sinto responsável por fazer homenagens a esses heróis do Dois de Julho, mas o governador Rui Costa e o prefeito ACM Neto foram muitos felizes quando disseram que a batalha agora é outra. Se chegamos onde chegamos, há quase quatro meses em batalhas diárias, é em função do trabalho das autoridades. Estamos juntos nessa batalha do combate à pandemia”, afirmou.

O ato simbólico terminou com a deposição das flores no monumento em homenagem ao General Labatut. Depois que as autoridades saíram, as cerca de 50 pessoas que acompanharam a cerimônia dispersaram, e o trânsito que estava interditado foi liberado. Em seguida, os carros com os caboclos retornaram para o barracão, e a vida na lapinha voltou à normalidade.


*Correio da Bahia

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