Soteropolitano trabalha 98 horas para comprar cesta básica
O soteropolitano vem tomando sustos toda vez que vai ao mercado. De acordo com uma análise realizada pela Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos da Bahia (SEI), em junho deste ano, o soteropolitano precisou trabalhar 98h35min para comprar uma cesta básica na capital. A análise revela ainda que para comprar uma cesta básica em Salvador, que atualmente custa R$ 503,93, o trabalhador que ganha um salário mínimo teve que comprometer 44,95% da sua renda líquida. Em comparação a maio, quem comprou uma cesta básica em Salvador no mês de junho teve uma economia de R$ 0,22 centavos. Segundo o professor de economia Cleiton Silva, este recuo no preço é considerado uma estabilidade estatística e a longo prazo o baiano e o brasileiro médio têm comprado menos comida em relação ao salário mínimo. Donos e donas de casa seguem se espantando com o aumento de itens básicos da dispensa como leite, feijão, pão e manteiga.
A Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), realizou uma cotação sobre o valor da cesta básica em Salvador. A análise foi feita com base em 1.893 cotações de preços em 96 estabelecimentos comerciais (supermercados, açougues, padarias e feiras livres) de Salvador e revelou um recuo de 0,04% no valor total em relação ao mês de maio. De acordo com a SEI, a cesta básica na capital passou a custar R$ 503,93 no mês de junho deste ano, representando uma diminuição de R$ 0,22 centavos em relação ao mês anterior. O professor Dr. de economia na UEFS, Cleiton Silva, comentou os dados da análise. “É completamente normal quando o preço médio da cesta básica está subindo ou está caindo, nem todos os itens sobem ou caem ao mesmo tempo. No caso específico do mês de junho é uma pequena queda na média. Não quer dizer que todos os preços cairam, existem sim produtos que estão subindo individualmente, mas a média está mais ou menos estável porque 22 centavos é quase que uma estabilidade estatística.”
Apesar disto, os soteropolitanos continuam se espantando com o aumento dos itens básicos da dispensa. William Alves, de 25 anos, reitera o coro que a população da capital emite quando sai às compras: “Toda vez que vou ao mercado, levo um susto”. Perguntado sobre o recuo no preço da cesta básica, William comenta que, pelo contrário, sente os preços dos alimentos aumentarem. “Não, não senti diferença. Na verdade está tudo mais caro, toda vez que vou ao mercado levo um susto, leite por exemplo está super caro. Fora o gás de cozinha, então esse valor não faz diferença alguma, sendo que os alimentos estão cada dia mais caros.Está cada dia mais difícil lidar com esses aumentos. O dinheiro não é suficiente pra tudo isso.” conta.
O espanto dos soteropolitanos no mercado é explicado pela alta de alguns itens. De acordo com a SEI, o feijão teve aumento de 8,36%, o leite (8,29%), o pão francês (5,85%), a manteiga (5,76%), a banana-prata (3,84%), o açúcar cristal (2,61%), o café moído (1,35%) e o arroz (0,28%). Por outro lado, quatro itens que compõem a cesta registraram redução de preço no último mês. O tomate (-7,32%); a farinha de mandioca (-6,42%), o óleo de soja (-4,01%) e a carne bovina (-3,91%).
Para o professor de economia, outro ponto nesta conta é a questão emocional e psicológica do consumidor. “É que nós, enquanto consumidores, damos um peso maior quando a gente vai no mercado, na feira, para as coisas que estão subindo. A gente ou passa o olho muito rápido ou a gente meio que fica míope em relação às coisas que estão caindo. Eu estou vendo o leite subir, o café subir e esqueço que o peixe caiu, por exemplo.” Porém, o professor enfatiza que houve uma escalada nos preços nos últimos 12 e 18 meses que está pesando no bolso do consumidor. “Eu acompanho as cestas do Brasil todo e elas estão no mesmo rojão. Claro que tem umas mais baratas e umas mais caras, mas nos últimos 18 meses especificamente, a subida foi forte em todas elas. E essa subida forte no preço dos alimentos, junto com o preço dos combustíveis e outras coisas está fazendo a população ficar muito desgostosa, muito chateada.”
De acordo com a SEI, em junho deste ano, o trabalhador soteropolitano precisou trabalhar 98h53min para comprar a cesta básica. O que equivale ao comprometimento de 44,95% do valor líquido de um salário mínimo atual, que é de R$ 1.121,10. Para o especialista, o salário que o brasileiro ganha não está acompanhando a alta nos preços. “Quando eu pego a renda mensal média das pessoas, não só na Bahia, mas no Brasil como um todo, e boto pra comparar com a cesta básica eu constato que hoje, tanto o baiano médio, não só o salariado, mas especialmente o salariado, está comprando menor quantidade de comida com o mesmo salário. Não só menos comida, mas a quantidade de gás, botijão, quantidade de litros de gasolina tá fazendo, além do preço subir, obviamente, a população ficar desgostosa porque o salário aumenta, mas não aumenta na mesma velocidade que a comida, o gás e o combustível. Então na prática, mesmo a pessoa empregada está ficando mais pobre, sem jargão ela está comendo menos carne, tomando menos café e tomando menos leite.” O professor complementa ainda: "As pessoas historicamente têm aquela coisa de substituir pelo ovo, mas o ovo também encareceu, pelo frango, mas o frango subiu pra caramba.”
*Tribuna da Bahia/Foto: Romildo de Jesus / Tribuna da Bahia / Arquivo
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