"Gatos de energia" causam 25 incêndios por mês em Salvador e colocam moradores em risco
Calçadas tomadas por enormes emaranhados de cabos impediam a passagem de pedestres na Avenida Tomás Gonzaga, em Pernambués, até o início desta semana. Os fios foram deixados na rua depois de um incêndio, que atingiu, no último dia 13, postes da região.
O episódio flagrado por moradores no início da manhã poderia ser cenário de um filme de terror: as chamas originadas por um curto circuito em postes de energia elétrica se espalhavam rapidamente pelas dezenas de fibras emboladas, que se soltavam dos equipamentos à medida em que o fogo promovia a destruição.
A cena, no entanto, não é apenas real como frequente. No ano passado, a capital baiana teve incêndios praticamente diários: cerca de 25 ocorrências por mês em estruturas do tipo foram registradas pelo Corpo de Bombeiros Militar do estado (CBM-BA).
Empresa responsável pela distribuição da energia na Bahia, a Neoenergia Coelba indicou ainda que os sinistros em postes cresceram 66% na cidade em 2022. A distribuidora foi acionada em 63 casos no ano.
Irregularidades
O problema é provocado pelos chamados “gatos de energia”, segundo Karin Garcia, gerente de Processos na Coelba. “As principais causas dessas ocorrências são as instalações clandestinas de equipamentos de internet e telefonia, que além da ocupação irregular ainda estão fora dos padrões técnicos de segurança”, explica.
Basta dar uma olhada mais atenta à via movimentada de Pernambués (ou a outras várias ruas de Salvador) para notar a cordoalha de origem indecifrável com variados roteadores de internet presos aos postes.
As ligações – que até podem ser feitas por outras companhias, desde que tenham o projeto de instalação autorizado pelas Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e Neoenergia Coelba – são capazes de causar uma série de riscos à população quando fogem das normas.
Quem paga a conta
“Quando cheguei, só encontrava estragos. Além do pânico pelo vizinho que tem problema de saúde e não podia inalar a fumaça, havia mais de 500 fios aqui na frente. Fiquei três dias sem abrir meu estabelecimento, sem espaço, e ainda queimou um toldo”, relembra o microempreendedor Wellington Ramos, que administra uma loja na frente dos postes torrados em Pernambués.
Prejuízos também alcançaram o chaveiro Naelson da Silva. “Fiquei um dia sem trabalhar. No momento do incêndio, todo mundo ficou com medo e a gente fica com receio de acontecer de novo porque causa muitos danos às pessoas: queima televisão, fogão, geladeira, outros eletrodomésticos”, lamenta.
Em 20 de dezembro de 2022, uma família perdeu a casa, que ficou completamente destruída depois de um incêndio iniciado na fiação próxima. O casal e o filho de 1 ano, na época, tinham se mudado para o imóvel no bairro de Campinas de Pirajá dois dias antes da ocorrência.
Além do fogo, a Coelba alerta para o perigo de choques elétricos, tombamento de postes por sobrepeso e queda na qualidade do serviço. As gambiarras podem configurar furto ou estelionato, com penas de 1 a 5 anos de reclusão e multa, previstas nos artigos 115 e 117 do Código Penal. Procuradas, as polícias Militar e Civil informaram que não têm estatísticas dentro deste recorte.
Fiscalização
“Tá cheio de irregularidades e quem paga a conta, literal e simbólica, somos nós”, reclama um morador, que não quis se identificar. “A Coelba tem que fazer alguma coisa”, apela.
Responsável pela fiscalização e manutenção dos postes, a Neoenergia Coelba afirmou que ampliou o trabalho em 2022, quando retirou cerca de 200 toneladas de cabos clandestinos em Salvador. Ainda assim, a ação acaba sendo em vão. “Muitas empresas voltam a instalar os equipamentos de maneira irregular mesmo após notificação administrativa”, alega.
*Metro 1/Foto: Leitor Metro1
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