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Saiba como usar a alimentação saudável contra o câncer


Ainda não há uma vacina contra o câncer, mas os alimentos que escolhemos ingerir e a forma como os preparamos podem ser determinantes para a prevenção da doença e para o sucesso do seu tratamento. Isto porque, estima-se para a Bahia 39 mil diagnósticos positivos em 2023 e cerca de 90% deles devem estar associados a fatores externos, não a condições genéticas. O cenário é previsto pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), no estudo que oferece as estimativas de casos da doença para Brasil no triênio 2023-2025.

De olho neste percentual considerado alarmante, a nutrição oncológica atua na orientação da população para uma dieta baseada em alimentos ricos em nutrientes que aliviam os sintomas causados pelo tratamento do câncer, assim como aqueles capazes de prevenir o desenvolvimento de suas células e, em contrapartida, os que facilitam sua atuação.

Para isso, segundo a nutricionista oncológica, Daniela Gesteira, a reeducação alimentar deve ser pensada em quatro etapas: de forma preventiva – antes de surgirem células cancerígenas no corpo; no diagnóstico imediato do câncer – para preparar o organismo para receber os quimioterápicos; durante o tratamento – para amenizar os efeitos colaterais da quimioterapia; e após a cura do câncer – quando a alimentação retorna ao estágio preventivo, um ano de remissão da doença.

Aliado a cada etapa, a rotina pessoal também deve ser levada em consideração. “Os hábitos, histórico familiar, emocional… tudo deve ser conversado, pois a alimentação também envolve o contexto social. Não dá para falar de uma alimentação anticâncer sem que o paciente consiga mudar com o que ele tem em casa”, afirma Daniela, destacando que a alimentação saudável não deve ser sinônimo de comida cara.

Para a professora de yoga Luciana Lôbo, já se passaram 5 anos desde que ela iniciou uma dieta de prevenção oncológica, que segue até hoje. Apesar de nunca ter mantido uma alimentação pouco nutritiva, ela foi diagnosticada com câncer de mama aos 41 anos, uma surpresa, dado a falta de histórico familiar.

Por já contar com o acompanhamento nutricional antes da doença, a alimentação anticâncer chegou para ela ainda no início do tratamento, através da nutricionista que já tinha. Segundo Gesteira, esse é o momento ideal para iniciar os novos hábitos alimentares, em casos de diagnósticos positivos, como é descrito por Luciana.

“É uma melhora muito grande e logo perceptível. Como pacientes oncológicos, [durante o tratamento] sentimos muita fadiga e ficamos mal nutridos, mas com o acompanhamento tudo isso é fortalecido, assim como o enjoo é reduzido. A orientação se torna poderosa, ainda mais por tendermos ao Google para autoprescrever uma dieta, tomando chás tidos como milagrosos”, relata a professora de Yoga.

A contadora Rosineth Almeida, 60 anos, também teve câncer de mama em 2019. “Para passar por essa fase, tive a felicidade e sorte de ser acompanhada. Ainda assim, é necessário que o protocolo de tratamento seja conciliado com outras práticas integrativas para complementar a saúde”, afirma Rosineth.

Por já ser vegana antes do diagnóstico, a dificuldade que esbarrou para manter uma alimentação voltada para o combate da doença foi a de encontrar produtos orgânicos, o que, apesar de não ser uma regra para a dieta oncológica ou preventiva, ajuda a reduzir o consumo dos agrotóxicos absorvidos pelas frutas e vegetais.

Anticâncer
O que classifica um alimento como anticâncer, segundo explica Daniela Gesteira, são os nutrientes contidos neles, capazes de inibir as células cancerígenas, como os carotenóides e as saponinas. O consumo aliado ao tratamento contra a doença, pode gerar uma melhora de até 80% nos efeitos colaterais sentidos pelos pacientes. Os mais comuns são a náusea, vômito e mucosite - feridas na boca.

A oncologista Clarissa Mathias explica que resultados positivos em tratamento contra o câncer são refletidos na microbiota - qualidade das bactérias fecais - que, por sua vez, dependem de uma alimentação saudável para favorecer o aumento da produção. “A flora intestinal está diretamente ligada à resposta de vários tratamentos, inclusive a imunoterapia [combate do avanço da doença pela ativação do próprio sistema imunológico do paciente]”, esclarece a médica.

Já para aqueles que buscam a prevenção, os efeitos também são positivos. O alho, a cebola, o gengibre e a cúrcuma são exemplos desses alimentos. “São temperos fáceis de inserir no dia a dia. A alimentação consiste basicamente na escolha de produtos menos ricos em gorduras totais”, afirma Gesteira. As frutas amarelas e vermelhas também entram na lista, boas opções são a uva e a maçã.

Mas antes de serem consumidas, precisam ser bem lavadas. Outra prescrição para prevenir a doença, segundo a nutricionista oncológica, é o consumo de brotos de trigo, conhecido como alimento germinado, rico em vitamina B-12, um anticancerígeno. Para prepará-lo basta adicionar o grão em um pote de vidro com água, trocando o líquido diariamente conforme os brotos vão nascendo e enchendo o recipiente. Tendo uma quantidade suficiente, pode ser ingerido como uma salada.

Prevenção
A prevenção, além de estar associada ao consumo de alimentos mais nutritivos, também passa pela necessidade de evitar a ingestão diária de grandes quantidades de produtos que favorecem o desenvolvimento das células do câncer. Neste caso, os vilões apontados por Daniela são a manteiga, queijo e leite.

“Não estamos falando de deixá-los para sempre, mas de evitar o consumo diário exagerado [duas vezes ou mais], por conterem altos níveis de gorduras e prejudicarem as células boas do sistema imunológico", explica Gesteira. No entanto, mesmo que a escolha seja assertiva, ainda é preciso estar atento às formas de preparo.

Um exemplo disso é cozinhar o alimento ao ponto de torrá-los para criar aquela casquinha queimada, típica de proteínas grelhadas. O frango, se for cozido demais, cria essa crosta, que é rica em acrilamida, uma substância química cancerígena. O mesmo ocorre com a cocção em altas temperaturas, como o brócolis. Mesmo sendo uma verdura inibidora do câncer, ele perde a ação neste tipo de cozimento.

Já o café, que também tem inúmeros benefícios anticâncer, perde sua função conforme a torra é mais escura. Ela geralmente é usada para esconder impurezas embaladas junto ao produto, sendo assim, quanto mais clara a torra, melhor. Filtra-lo no coador de pano também ameniza as perdas.

O nutricionista do Itaigara Memorial Leandro Sarmento, aconselha que a melhor maneira de iniciar uma reeducação alimentar é aos poucos, para que as mudanças sejam sustentáveis. “[No começo vale] incluir uma fruta, beber mais água, reduzir o consumo de açúcar… escolher pequenas mudanças”, sugere.

Alimentos bons
- Produtos integrais
- Frutas amarelas
- Frutas vermelhas
- Agrião


Alimentos para evitar em excesso
- Manteiga
- Leite
- Queijo
- Carnes embutidas




*Correio da Bahia/Foto: shutterstock

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