Bahia é o estado com o maior número de pessoas centenárias do Brasil
"Estar perto de Deus e da família". É assim que dona Enedina Braga Viana define a graça de ultrapassar os 100 anos de idade. Nascida em abril de 1922, a juazeirense é uma das 5.336 pessoas centenárias da Bahia. De acordo com o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado baiano se mantém com o maior contingente de centenários do país: o número representa 0,04% do total de habitantes.
Em comparação a 2010, a população centenária baiana registrou um aumento de 60% , um acréscimo de 2.001 pessoas. Há 13 anos, o número de pessoas com 100 anos ou mais era de 3.335. À época, a Bahia já liderava o ranking, em termos absolutos, porém possuía a segunda maior proporção deste grupo no total de habitantes, o que foi alterado em 2022.
Conforme o levantamento, o estado baiano assumiu a liderança dos dois indicadores. A distribuição dos centenários entre munícipios chama atenção: dos 417 munícipios da Bahia, apenas cinco não registraram um morador com 100 anos ou mais. Foram eles: Aiquara, Brejões, Jussari, Pau Brasil e Terra.
Salvador, Feira de Santana e Alagoinhas são as cidades com maiores populações centenárias do estado. Elas têm, respectivamente, 516, 157 e 113 pessoas com cem anos ou mais. A capital baiana ocupa a 4ª posição no ranking de municípios brasileiros com mais habitantes centenários.
Dona Enedina Braga faz parte do rol de centenários de Salvador, apesar de ter nascido e vivido mais de oito décadas na cidade de Juazeiro, no norte do estado. A mudança para a capital baiana se mostrou inevitável, após perder um dos pés por causa de um melanoma, câncer de pele considerado como um dos mais agressivos.
Depois de uma cirurgia no hospital Aristides Maltheiz e de um breve retorno à cidade natal, ela se mudou definitivamente para a capital baiana, onde mora com uma das filhas. Sem outros diagnósticos de doenças crônicas, a centenária esbanja lucidez e segue uma rotina de cuidados que a mantém forte, rumo aos 102 anos.
"Ela está bem, lúcida. Os filhos e netos fazem videochamadas e ela fala com todos, consegue reconhecer todos. Ela fala com todo mundo, a dificuldade é reconhecer alguns bisnetos, apenas", diz Aida Viana, 59, a quarta dos cinco filhos de dona Enedina, que é mãe de duas mulheres e três homens, avó de seis netos e bisavó de 16.
A longevidade da baiana centenária é reflexo de uma rotina de cuidados, como aponta Aida. Ela se alimenta bem todos os dias, com um cardápio recheado de proteínas e nutrientes, além de receber atendimento médico em casa, mensalmente, e sessões de fisioterapia durante a semana. Além disso, a família possui um histórico de longevidade. Os dois irmãos mais velhos viveram até 96 e 98 anos.
Falta pouco mais de um mês para Salvana de Souza, 99, entrar no grupo de centenários baianos. A idosa reflete gratidão por uma vida saudável e cheia de paz de espírito, como contou à reportagem. Natural de Amargosa, no interior do estado, a aposentada não apontou segredos para viver tantos anos. "Não tem segredo, é a vontade de Deus. Tenho um mente boa e vida normal", conta.
Salvana casou em 1943, trabalhou como secretária da Empresa Docas da Bahia durante 20 anos e tem seis seis filhos, 17 netos, 21 bisnetos e dois tataranetos. As lembranças profissionais e familiares, como o crescimento e a formação das crianças, são as que perduram na memória da aposentada, que completará 100 anos no dia 9 de dezembro.
Se é questionada sobre conselhos para os mais jovens, ela não hesita: "Respeitar as pessoas, principalmente os idosos, estudar para ter uma formação e ser uma pessoa correta", diz.
Atualmente, a quase centenária está lúcida, apenas com uma certa dificuldade de locomoção. Assim como Enedina, ela mantém uma rotina de cuidados, com fisioterapia duas vezes na semana, alimentação saudável e tempo para assistir noticiários, novelas e programas de entrevistas, como contou uma das filhas, Luciene de Souza, 69.
Índice de envelhecimento da Bahia é o 10º mais alto do Brasil
Nos últimos 12 anos, o total de pessoas na casa dos 60 ou mais de idade cresceu 48,9% na Bahia, de acordo com dados do último Censo. Entre 2010 e 2022, foi registrado um aumento de 709.272 idosos nos estados, o que configura um total de 2.159.279 - cerca de 15,3% da população.
Essa nova configuração demográfica faz a Bahia sair da 12ª posição do ranking de estados com maiores índices de envelhecimento do país, ultrapassando Pernambuco e Ceará. Com um indicador de 52,6 idosos para 100 crianças de até 14 anos, o estado baiano figura agora na 10ª colocação. Os estados com maiores índices são Rio Grande do Sul (80,4/100), Rio de Janeiro (73,6/100) e Minas Gerais (68,6/100).
O envelhecimento mais acelerado da população baiana possui relação direta com a diminuição do número de nascimentos no estado, é o que pontua Mariana Viveiros. "Em uma população em que nascem menos crianças, o movimento de redução nas faixas etárias mais jovens é percebido", explica, pontuando que também há influência da longevidade maior.
*Correio da Bahia/Foto: Marina Silva/CORREIO
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