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Cresce a preferência dos brasileiros pelo trabalho autônomo, aponta Datafolha


Uma recente pesquisa do Instituto Datafolha revelou uma mudança significativa na forma como os brasileiros enxergam o mundo do trabalho. Hoje, 59% da população preferem atuar por conta própria, enquanto apenas 39% se sentem mais confortáveis sendo empregados de empresas com carteira assinada. Os dados, divulgados na sexta-feira (20), evidenciam uma transformação cultural e econômica que vem se acentuando desde a pandemia.

De 2022 para cá, o número de pessoas que consideram mais importante "ganhar mais" do que "ter carteira assinada" subiu de 21% para 31%. Em contrapartida, os que valorizam o vínculo formal mesmo com um salário menor caiu de 77% para 67%. Esse movimento parece especialmente forte entre os jovens: entre os brasileiros de 16 a 24 anos, 68% preferem ser autônomos, contra 29% que dão preferência ao emprego tradicional. Mesmo entre os mais velhos, com mais de 60 anos, metade ainda prefere o trabalho por conta própria.

O fenômeno é multifacetado. Segundo o economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), a perda de relevância da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) está ligada a mudanças culturais, como a valorização da flexibilidade e o crescimento do trabalho remoto — que se popularizou durante a pandemia e ainda é um desejo latente entre trabalhadores, mesmo com o retorno presencial imposto por muitas empresas.

Além disso, Duque destaca o papel do mercado aquecido. Com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos — 6,6% no trimestre encerrado em abril, segundo o IBGE —, muitos brasileiros se sentem mais confiantes em buscar alternativas que garantam maior renda, mesmo que isso signifique abrir mão da estabilidade oferecida pela CLT. “Os encargos trabalhistas acabam sendo um obstáculo para aumentos salariais. Muitos veem no trabalho autônomo uma forma de contornar essa limitação”, explica o economista.

O crescimento das chamadas “ocupações por aplicativo” — como transporte, entrega e vendas online — também tem impulsionado esse movimento. A autonomia para escolher quando e quanto se quer trabalhar se tornou um diferencial atrativo, especialmente para aqueles que priorizam a liberdade sobre a estabilidade.

A pesquisa ainda mostrou variações importantes por perfil político e região. Eleitores do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, são os que mais valorizam o trabalho autônomo (66%), enquanto entre os simpatizantes do PT, do atual presidente Lula, o índice é de 55%. Já em termos regionais, a preferência pela CLT é mais forte no Nordeste (69%) e Sudeste (67%), caindo no Norte e Centro-Oeste (ambas com 62%).

No recorte por gênero, as mulheres tendem a valorizar mais o vínculo formal — 71% preferem a carteira assinada, frente a 62% dos homens. A valorização do trabalho com direitos também cresce com a idade: entre pessoas de 45 a 59 anos, 68% preferem empregos formais; entre os que têm mais de 60 anos, esse número sobe para 79%.

Com uma margem de erro de dois pontos percentuais, o levantamento foi realizado em 136 municípios, ouvindo 2.004 pessoas nos dias 10 e 11 de junho de 2025.

O cenário aponta para uma redefinição do que significa “trabalho ideal” no Brasil. Entre a segurança da CLT e a liberdade do trabalho autônomo, cada vez mais brasileiros parecem dispostos a abrir mão de garantias formais em troca de maior controle sobre sua rotina e seus ganhos. É uma tendência que desafia tanto as políticas públicas quanto o modelo tradicional de emprego vigente no país.





Por Ataíde Barbosa/Foto: Tony Winston/ Agência Brasília

 

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