Hepatites virais crescem entre jovens adultos na Bahia e acendem alerta de saúde pública
Nos últimos cinco anos, a Bahia tem enfrentado uma mudança significativa no perfil epidemiológico das hepatites virais, com aumento nos casos e nas mortes relacionadas, sobretudo entre adultos jovens. Dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) mostram que os diagnósticos de hepatite A cresceram 400% entre 2021 e 2025, saltando de 13 casos no ano inteiro para 65 apenas entre janeiro e julho deste ano.
O avanço da doença tem se concentrado em pessoas com idades entre 20 e 39 anos, faixa etária que, até pouco tempo, não era foco das campanhas de vacinação. Após surtos recentes registrados pelo Ministério da Saúde em 2024, o público adulto jovem passou a ser incluído nas estratégias de imunização.
A principal hipótese para esse aumento, segundo especialistas, está relacionada ao crescimento de relações sexuais desprotegidas e a determinadas práticas que facilitam a transmissão fecal-oral do vírus da hepatite A. “Hoje, muitos dos infectados não fazem parte dos grupos historicamente considerados de risco”, explica o hepatologista Raymundo Paraná. Ele também destaca que a falta de exposição ao vírus na infância contribui para que adultos cheguem à fase adulta sem imunidade natural, tornando-se mais vulneráveis.
Entre 2021 e 2025, a Bahia registrou 200 casos de hepatite A e oito mortes associadas à doença. Já as hepatites B e C, que possuem maior potencial de cronificação, seguem com indicadores preocupantes. A hepatite B teve 3.064 casos confirmados e 12 mortes no período. A hepatite C, por sua vez, somou 3.238 diagnósticos e foi responsável por 17 óbitos.
Embora os casos de B e C venham apresentando queda desde 2023, os efeitos das infecções crônicas continuam a provocar desfechos graves, como cirrose e câncer hepático.
Desafios no cenário nacional
O Brasil confirmou mais de 34 mil casos de hepatites virais em 2024, com cerca de 1.100 mortes diretamente ligadas à doença. A maior parte dos casos é relacionada às hepatites B e C, que podem permanecer assintomáticas por décadas. A vacinação contra hepatite A em crianças, implantada em 2014, ajudou a reduzir a incidência entre os pequenos, mas a ausência de imunização para adultos ainda representa um gargalo.
“O Brasil, diferente de países como Argentina, Chile e Uruguai, não vacina adultos contra a hepatite A, porque antes eles não eram suscetíveis. Mas isso mudou. Estudos recentes mostram que mais da metade dos brasileiros chegam à vida adulta sem imunidade contra o vírus”, alerta o médico Raymundo Paraná.
Campanhas e prevenção
Com o objetivo de ampliar o diagnóstico e reduzir as infecções, a Bahia reforça as ações de conscientização durante o Julho Amarelo, campanha de combate às hepatites virais. Entre as estratégias estão testagens rápidas, atualização vacinal e ações educativas voltadas a populações mais vulneráveis, como pessoas com HIV, usuários de álcool e drogas e detentos.
Segundo a Sesab, o foco está na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento oportuno, fundamentais para atingir as metas globais estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê a redução de 90% na incidência das hepatites B e C e de 65% na mortalidade até 2030.
Neste 28 de julho, Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, o apelo é claro: ampliar a cobertura vacinal, estimular a testagem e conscientizar a população são passos essenciais para frear o avanço silencioso dessas doenças no país.
Por Ataíde Barbosa/Foto: Diane Passos/Prefeitura Boa Vista
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