Câncer supera doenças cardiovasculares como principal causa de morte em 60 cidades da Bahia em 2025
As doenças cardiovasculares ainda lideram as estatísticas de mortalidade no Brasil e no mundo, mas o cenário começa a mudar em várias regiões da Bahia. No primeiro semestre de 2025, pelo menos 60 municípios baianos registraram mais óbitos por câncer do que por problemas cardíacos e circulatórios, segundo dados do Datasus.
Entre as cidades que já refletem essa transição estão Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo, e Vera Cruz, na Região Metropolitana de Salvador. O número representa mais que o dobro do registrado em 2024, quando apenas 28 municípios apresentaram esse perfil. Em seis deles — como Gongogi, Luís Eduardo Magalhães e Mata de São João — a mudança se repete pelo segundo ano consecutivo, sugerindo uma tendência consolidada.
No entanto, quando considerados os números do estado como um todo, as doenças cardiovasculares ainda se mantêm à frente: foram 3.519 mortes contra 2.081 por câncer entre janeiro e junho. Ou seja, cerca de 14,3% dos municípios baianos já vivem uma nova realidade epidemiológica.
Essa mudança não é exclusiva da Bahia. Estudos nacionais e internacionais já apontam que o câncer tende a ultrapassar as doenças do coração como principal causa de morte em diversos países. Pesquisa publicada pela Lancet em 2024 mostrou que, no Brasil, o número de cidades nessa situação quase dobrou entre 2000 e 2019, passando de 366 para 727.
Especialistas atribuem o fenômeno a dois fatores principais: de um lado, melhorias no tratamento e prevenção das doenças cardiovasculares, com medicamentos, procedimentos como stents e pontes de safena, além do acesso ampliado pelo SUS; de outro, aumento da incidência de câncer, impulsionado pelo envelhecimento populacional, hábitos de vida e fatores ambientais.
“Hoje, conseguimos controlar melhor a hipertensão, o colesterol e tratar infartos e AVCs com mais eficiência. Enquanto isso, os casos de câncer têm crescido e a população idosa, que é a mais vulnerável, também aumentou”, explica o oncologista Cleydson Santos, do Hospital Mater Dei Salvador.
Além da idade, outros elementos contribuem para a expansão dos diagnósticos: obesidade, tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, alimentação rica em ultraprocessados e até poluição estão associados a diferentes tipos de tumores. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 700 mil novos casos são esperados no Brasil até 2025.
Apesar do avanço da oncologia com terapias-alvo, imunoterapia e exames mais modernos, a prevenção ainda é considerada a arma mais eficaz. A mamografia, o papanicolau, o PSA e a colonoscopia em faixas etárias recomendadas são apontados como fundamentais para o diagnóstico precoce.
A oncologista Luciana Landeiro, da Oncoclínicas, reforça: “Apenas 5% dos cânceres têm origem puramente genética. Os outros 95% estão relacionados a fatores externos, principalmente hábitos de vida. Isso mostra que temos margem para reduzir os riscos.”
Assim, mesmo que o câncer avance como principal causa de morte em parte da Bahia, especialistas defendem que políticas públicas de prevenção, diagnóstico precoce e acesso a tratamentos modernos podem mudar o quadro e salvar milhares de vidas nos próximos anos.
Por Ataíde Barbosa/Foto: Agência Brasil




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