Sem regulação, imagens de crianças em redes viram alvo de criminosos, alertam especialistas
As recentes denúncias feitas pelo influenciador Felca Bress sobre conteúdos envolvendo crianças e adolescentes nas redes sociais acenderam um alerta em todo o país. As imagens divulgadas pelo criador de conteúdo, que mostravam a exposição indevida de menores em ambientes virtuais, mobilizaram o Congresso Nacional, a Presidência da República e diferentes setores da sociedade civil.
Especialistas consultados pela Agência Brasil destacam que a falta de regulação específica para o uso de imagens de crianças nas plataformas digitais deixa milhões de meninos e meninas vulneráveis. Eles orientam pais, mães e responsáveis sobre medidas de proteção e reforçam que escolas, órgãos públicos e a rede de assistência social também têm papel fundamental na defesa dos direitos dessa população.
O papel dos responsáveis
Para a escritora e ativista Sheylli Caleffi, que atua na prevenção da violência sexual e online, conhecer e respeitar a classificação indicativa das plataformas é um primeiro passo. O Instagram, por exemplo, não é recomendado para menores de 16 anos, enquanto o TikTok e o WhatsApp só podem ser usados a partir dos 13.
Segundo Caleffi, cabe aos responsáveis garantir a veracidade das idades informadas e ajustar as configurações de privacidade. “Se a criança ou o adolescente tem uma conta, ela precisa ser privada, para que apenas pessoas autorizadas tenham acesso ao conteúdo”, recomenda.
Ela alerta ainda para os riscos de familiares postarem fotos de menores em perfis pessoais. “As redes não são álbuns de família, são espaços comerciais frequentados por bilhões de pessoas, inclusive criminosos. Uma imagem inocente pode ser facilmente retirada do contexto e usada de forma inadequada.”
Adultização precoce
Outro ponto de preocupação é a chamada “adultização” de crianças, fenômeno que extrapola o ambiente digital. A exposição precoce a roupas, maquiagens, dietas e padrões estéticos de adultos pode gerar danos psicológicos e distorções de autoestima já nos primeiros anos de vida.
“A criança de quatro anos que se sente insatisfeita com o corpo, a menina de nove que faz dieta, o adolescente que se preocupa em se maquiar como um adulto – tudo isso mostra o impacto de um ambiente que naturaliza a sexualização precoce”, afirma Caleffi.
O papel da rede de proteção
A psicóloga Vládia Jucá, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), reforça que a proteção não é apenas responsabilidade das famílias. Segundo ela, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determina que a defesa dos direitos seja tarefa compartilhada entre Estado e sociedade.
“Escolas, unidades de saúde, assistência social, Justiça, Ministério Público: todos compõem uma rede que deve atuar de forma integrada. Se a escola identifica um problema, a assistência precisa acompanhar; se for grave, a Justiça deve ser acionada. Essa articulação é essencial”, explica.
Para Jucá, também é urgente a regulação das big techs e o fortalecimento dos serviços públicos que lidam diretamente com crianças e adolescentes. “É preciso criar espaços de escuta, onde eles possam falar e ser levados a sério. Muitos adolescentes relatam o quanto não se sentem ouvidos.”
Como agir em casos de violação
Além de orientações de prevenção, especialistas lembram que existem canais de denúncia para situações de abuso, exploração ou exposição indevida. O Disque 100 é gratuito, funciona 24 horas por dia e pode ser acionado de qualquer telefone fixo ou celular.
Por Ataíde Barbosa/Foto: Joédson Alves/Agência Brasil



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